sábado, 14 de maio de 2011

UMA MEMÓRIA DA INFÂNCIA


Curso de Verão - PUC/SP
A MENINA ENTERRADA VIVA
Luís da Câmara Cascudo

            Era um dia um viúvo que tinha uma filha muito boa e bonita. Vizinha ao viúvo residia uma viúva, com outra filha, feia e má. A viúva vivia agradando a menina, dando presentes e bolos de mel. A menina ia simpatizando com a viúva, embora não se esquecesse de sua defunta mãe que a acariciava e penteava carinhosamente. A viúva tanto adulou, tanto adulou a menina que esta acabou pedindo que seu pai casasse com ela.
            - Case com ela, papai. Ela é muito boa e me dá mel!
            - Agora ela lhe dá mel, minha filha, amanhã lhe dará fel! - respondia o viúvo.
            A menina insistiu e o pai, para satisfazê-la, casou com a vizinha. Obrigado por seus negócios, o homem viajava muito e a madrasta aproveitou essas ausências para mostrar o que era. Ficou arrebatada, muito bruta e malvada, tratando a menina como se fosse a um cachorro. Dava muito pouco de comer e a fazia dormir no chão em cima de uma esteira velha. Depois mandou que a menina se encarregasse  dos trabalhos mais pesados da casa. Quando não havia coisa alguma que fazer, a madrasta não deixava a menina brincar. Mandava que fosse vigiar um pé de figos que estava carregadinho, para os passarinhos não bicarem as frutas.
            A pobre da menina passava horas e horas guardando os figos e gritando – chô! passarinho! quando algum voava por perto. Uma tarde estava tão cansada que adormeceu e quando acordou os passarinhos tinham picado todos os figos. A madrasta veio ver e ficou doida de raiva. Achou que aquilo era um crime e no ímpeto do gênio matou a menina e enterrou-a no fundo do quintal. Quando o pai voltou da viagem a madrasta disse que a menina fugira de casa e andava pelo mundo, sem juízo. O pai ficou muito triste.
            Em cima da sepultura da órfã nasceu um capinzal bonito. O dono da casa mandou que o empregado fosse cortar o capim. O capineiro foi pela manhã e quando começou a cortar o capim, saiu uma voz do chão, cantando:

               Capineiro de meu pai!
               Não me cortes os cabelos...
               Minha mãe me penteou,
               Minha madrasta me enterrou,
               Pelo figo da figueira
               Que o passarinho picou...
               Chô! passarinho!

            O capineiro deu uma carreira, assombrado, e foi contar o que ouvira. O pai veio logo e ouviu as vozes cantando aquela cantiga tocante. Cavou a terra e encontrou uma laje. Por baixo estava vivinha, a menina. O pai chorando de alegria abraçou-a e levou-a para casa. Quando a madrasta avistou de longe a enteada, saiu pela porta afora, e nunca mais deu notícias se era viva ou morta.
            O pai ficou vivendo muito bem com sua filhinha.

OFICINA PARA NOVOS CONTADORES ACONTECE NA PUC janeiro de 2011

Curso de Verão 2011- PUC/SP
O Curso de Verão acontece a 25 anos na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, promovido pelo CESEP(Centro de Evangelização e Educação Popular).
O Curso, que oferece formação para professores, arte-educadores,  militantes cristãos  e  lideranças populares, acontece todos os anos no mês de janeiro, promovendo um grande encontro entre diferentes culturas e   linguagens da arte. É nesse contexto criativo que está inserida a "Oficina para Contadores de Histórias". 
Sendo uma uma das três linguagens ofertadas pelo grupo "Arte com Criança", esta oficina, que é assessorada pela Contadora de Histórias "Maria Maranhão, acolhe pessoas de diferentes lugares do Brasil e América Latina. 
A trama é o envolvimento de cada um na perspectiva do trabalho com a criança. O tecido final, que percorre o fio das histórias, busca o encontro com a criança contemporânea, e tem como eixo ancestral a "tradição oral". 
O resultado do trabalho é coletivo, e permeia a história de cada um(a) que se dispõe a vivenciar a experiência da criança e o encontro com o poder sedutor das narrativas.
Confira:
http://www.cesep.org.br/