O CREDO DO CONTADOR




A  ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS
       O CONTADOR DE ESTÓRIAS É UM MAGO, UM XAMÃ E UM TECELÃO. SUA VOZ  CONJURA MAGIAS, TECE ENCANTAMENTOS, TRANSPÕE MUNDOS E ÉPOCAS E MUDA O DESTINO. SUA COSTURA CERZE DIFERENTES TECIDOS ATEMPORAIS E PROVOCA EM NÓS SENTIMENTOS PIONEIROS.
 ARTEFATOS E ELEMENTOS DA MÚSICA, DA LITERATURA, DA CULTURA, DA TRADIÇÃO ORAL, E OS SEM FIM DE ENCANTAMENTOS SÃO FERRAMENTAS DO CONTADOR DE ESTÓRIAS.

Credo do Contador
Creio no contador, como memória viva do amor e creio em seu filho, e no filho de seu filho, e no filho de seu filho, porque eles são a estirpe da voz, os criadores da terra e do céu das vozes: voz das vozes. 
Creio no contador, concebido nos espelhos da água, nascido humilde, tantas vezes negado, tantas vezes crucificado, porém nunca morto, nunca sepultado, porque sempre ressuscitou dos vivos congregando-os a ser: xamã, fabulista, contador de histórias...
Creio na magia que, na entrada das cavernas, acendeu o primeiro fogo que reuniu como estrelas: o assombro, o tremor, a fé.
Creio no contador que, desde os tempos tribais, a todos antecedeu para alcançar-nos por que é.
Creio em suas mentiras fabulosas que escondem fabulosas certezas, no prodígio de sua invenção que vaticina realidades insuspeitas, e também creio na fantasia das verdades e nas verdades da fantasia, por isso creio nas sete léguas das botas, na serpente que antes foi inofensiva galinha, e no gato único no mundo, aquele gato que ao miar lançava moedas de ouro pela boca.
Creio nos contos de minha mãe, como minha mãe acreditou nos contos de minha avó, como minha avó acreditou nos contos de minha bisavó e recordo a voz que me contava para afastar a enfermidade e o medo, a voz que recordava os conselhos entesourados pela mãe para passá-los ao filho;
— Não te desvies do teu caminho.
— Nunca faças de noite o que possas te envergonhar pela manhã.
Creio no direito da criança escutar contos; e mais, creio no direito das crianças vivas dentro dos adultos de voltar a escutar os contos que povoaram sua infância; e mais, creio nos direitos dos adultos desde sempre e para sempre de escutar contos, outros novos contos.
Creio no gesto que conta, porque em sua mão desnuda, despojadamente desnuda, está o coelho.
Creio no tambor que redobra, porque o que haveria sido do mundo se não tivesse sido inventado o tambor, se a poesia não reinventasse o mundo dentro de nós, se o conto, ao improvisar o mundo, não o reordenasse, se o teatro não desvelasse a cerimônia secreta das máscaras e por isso...
Porque creio, narro oralmente.
Creio que contar é defender a pureza, defender a sabedoria da ingenuidade, defender a força da indagação.
Creio que contar é compartilhar a confiança, compartilhar a simplicidade como transparência da profundidade, compartilhar a linguagem comum da beleza.
Creio que contar É AMOR.
Garzón Céspede


        ( Publicado por Maria Maranhão)          


ORAÇÃO DO CONTADOR DE HISTÓRIAS  
                         

Ó Deus, Pai Criador,
Autor da mais linda história que se chama Vida,
que soubeste expressá-la com tão belos cenários,
com tanto amor a ecoar na voz dos personagens
que procuram um mundo melhor!
Senhor dá-me sabedoria para que eu possa,
através de minha voz,
comunicar nesta narrativa uma palavra de carinho.
Que eu seja fiel ao Evangelho,
a Boa-Notícia que teu Filho e Senhor Nosso, Jesus Cristo,
veio ao mundo comunicar, por meio de parábolas,
mas, sobretudo, na doação de sua vida.
Amém.
Fonte: Dinâmicas para contar histórias - Rogério Bellini

                         (Publicado por Maria Maranhão)