CONTAR OU NARRAR ? O IMPORTANTE É TODA ILUMINAÇÃO QUE O GESTO PODE PROVOCAR!

Contar histórias é trazer à baila, trazer à tona. Não é uma atividade inútil. Embora haja o intercâmbio de histórias, quando duas pessoas trocam histórias como presentes mútuos, na maior parte dos casos elas chegaram a se conhecer bem. Desenvolveram um relacionamento de parentesco se ele já não existia. E é assim mesmo que deve ser. Ao lidarmos com as histórias, estamos trabalhando com a energia arquetípica, que é muito parecida com a eletricidade. Ela pode animar e iluminar, mas no local errado na hora errada e na quantidade errada, como qualquer medicamento pode produzir efeitos nem um pouco desejados. Às vezes, pessoas que coletam histórias não percebem o que estão pedindo quando querem saber uma história dessa dimensão. Os arquétipos nos modificam. Se não houver modificação, então não houve nenhum contato real com o arquétipo. Quando se pensa em contadores de histórias, imagina-se uma fogueira, todos ao redor dela e uma pessoa contando algo. Esse é o narrador tradicional, mas há uma nova forma de contar histórias: o "Conta Contos" (uma palavra espanhola para designar a narração baseada em texto escrito), que surgiu no final do século passado na Alemanha e, depois de muitos anos, chegou à América Latina através de países de língua espanhola. No Brasil é mais recente, só apareceu há cerca de dez anos. 
Ouvir histórias nos possibilita entrar em contato com emoções importantes, tais como: sentir e enxergar com os olhos da imaginação. Através das histórias conhecemos novos lugares, outros tempos, outros modos de agir, outra ética, outra ótica.
Quem não teve uma avó ou mesmo a mãe que, antes de dormir, contava deliciosas histórias e fazia com que fossemos direto ao mundo da imaginação. Somos todos contadores de histórias. É só observarmos uma fila: desconhecidos a espera de algo, logo começam a conversar para que o tempo passe e então começam a contar uma série de histórias de suas vidas, da vida de outras pessoas, de coisas que "ouviram falar", etc. As pessoas têm a falsa impressão de que seja necessário um dom quase mágico para contar uma história. Isto não é verdade, está dentro de cada um, é nato do ser humano. O necessário é descobrir alguns pequenos truques que encantem a platéia. Transmitir uma história é uma responsabilidade muito grande. Temos de nos certificar de que as pessoas estejam preparadas para as histórias que contam.

(Texto de Clarissa Pínkola Éstes)