Sala de Leitura da EMEF Vilanova Artigas |
É na infância que vamos assimilando as primeiras idéias de mundo, como ele se forma e evolui. O caminho que melhor define o desenvolvimento dessa fase é a palavra, em seguida vem a palavra escrita e a iniciação ao mundo da literatura infantil. Portadora do sensível, a criança mergulha nas provocações feitas pelas palavras escritas. O grande diferencial de Andersen, escritor universal, foram suas experiências, na infância, com as histórias. É compreensível, então, que haja uma estreita relação entre a criança e o fantástico que é notória. Quando se lê para elas, percebe-se rostos que se transfiguram, corpos que se tele transportam para outros universos, alguns ficam invisíveis, embora estejamos vendo-os ali. Para Piaget, (1971) quando a criança brinca, ela interpreta o mundo à sua maneira, não há compromisso com a realidade, pois ela atribui os sentidos de acordo com sua interação com o mesmo. No jogo simbólico, ela atribui diferentes significados para um mesmo objeto. Na aprendizagem formal, isso não é possível, pois cada objeto tem sua significação e finalidade única. O óbvio da pesquisa de Piaget (1971) é que o faz-de-conta promove o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da criança. A literatura, na escola, permite sem formular exigências, que a criança por si só reflita sobre sua condição pessoal de ser no mundo. Alguns educadores ou especialistas podem concluir que a literatura pode ser uma complexa forma de lidar com a linguagem das palavras, ou seja, uma linguagem de difícil aprendizado, até para eles próprios. Então, a revelia de se aprofundarem no assunto, buscando fundamentação teórica, sugerem leituras menores, simplificadas, sufocando a maravilhosa capacidade de interação do imaginário infantil. É uma forma equivocada de compreensão da criança, e reduzi-la a um ser de inteligência menor, incapacitada para leituras tão estruturadas. Em resposta à pesquisa de Maria Dinorah(1995), Carlos Drummond de Andrade, se expressou assim sobre a Literatura infantil:
Haverá música infantil? Pintura infantil?
A partir de que ponto uma deixa de constituir alimento para o espírito
da criança ou do jovem e se dirige ao espírito do adulto? Qual o bom
livro para crianças que não seja lido com interesse
pelo homem feito? Qual o livro de viagem ou aventuras,
destinado a adultos, que não possa ser dado a crianças, desde
que vazado em linguagens simples e isento de ateria de escândalo?
(1940, DRUMONDDE ANDRADE, apud, DINORAH , 1995, p.27)
A fala de Drummond aponta para o cuidado ao nomear um tipo específico de texto para criança, desvalorizando sua capacidade de escolha e de formulação de valores. Significa que o professor deve nortear seu trabalho, acreditando que a criança já possui uma estrutura de pensamento e um repertório próprio, com potencialidades, este será um fator primordial para que ele próprio compreenda a importância da ampliação do repertório para o trabalho com literatura. Nesse sentido, um acervo de histórias tradicionais, assombrosas, fantásticas ou aventurosas, contos tradicionais maravilhosos, devem fazer parte do seu material de leitura e de trabalho, pois são matéria prima da arte literária e não se pode negar sua função primeira, que é encantar a todos, sem distinção, e isto inclui primordialmente a criança. A ela cabe a tarefa simbólica e criativa de desvendar suas facetas. O Professor Antônio Cândido, em seu texto intitulado “O Direito à Literatura” diz que:
“ a literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade , o semelhante” (Cândido1995, p. 249). Esse pensamento, além de provocar uma reflexão com as fronteiras de nossa humanidade, aponta um caminho para aprender a lidar com nossas limitações, posto que a literatura ainda é, até os dias atuais, um desafio para muitos educadores. Sendo eles parte dessa realidade onde muitas pessoas só praticam a leitura na fase escolar, uma vez que concluem esta fase, não voltam mais a ler por terem assimilado a leitura como um dever a ser cumprido, e não como um meio de sintetizar e apreender o mundo e suas relações. Excerto do capítulo I
"Encantamentos Literários, Musicais e Corporais: Chave Mestra para o desenvolvimento da criança
de corpo inteiro" Monografia apresentada ao Centro Universitário Maria Antônia da
Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Especialista
(Maria de Jesus C. Sousa)
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